Só é Líder quem quer

Pedi a colaboração dos utilizadores do LinkedIn para darem a sua opinião sobre o que é que os faz sentir mais Feliz no Trabalho:

A resposta foi clara – ser Reconhecido e Valorizado pelos Líderes – o que não me surpreendeu! Mais do que o salário, sermos promovidos ou termos aqueles benefícios que já são comuns em qualquer empresa, ser reconhecido e ser valorizado é o que nos alimenta a alma.

Na Revista Exame de Junho de 2020, foi publicado mais um resultado do estudo Happiness Works 2020 (9ª edição) que mede a felicidade organizacional junto dos colaboradores. Este ano atingiu um dos melhores resultados - 3.82 em 5, cobrindo os dias imediatamente anteriores à declaração do estado de emergência e as semanas seguintes.

Foram utilizados indicadores para avaliar a felicidade dos colaboradores na organização e na função e no que respeita à organização, os colaboradores consideram que o ambiente interno,  o gostarem do que fazem e terem reconhecimento e confiança fazem aumentar o seu índice de felicidade. Por seu turno, terem o apoio das chefias, reconhecimento e respeito bem como o ambiente de trabalho são aspectos fundamentais para se sentirem felizes na sua função.

Este ano o Happiness Works 2020 inovou, perguntando também quais as experiências que fazem os colaboradores mais felizes, destacando-se no bem-estar organizacional e profissional, o trabalho em equipa e o reconhecimento como os factores mais valorizados.

Por estes estudo recente e por muitos outros anteriores, facilmente se conclui da relevância que a liderança tem na felicidade organizacional.

As Pessoas vão se esquecer daquilo que disse, as Pessoas vão se esquecer daquilo que fez, mas as Pessoas nunca se vão esquecer da forma como as fez sentir” - Maya Angelou

Efectivamente, esta frase nunca fez tanto sentido! São estas memórias emocionais, sejam positivas ou negativas, que vão ficar sempre connosco.

A liderança, o ambiente de trabalho, o reconhecimento e a confiança são os elementos fundamentais para a felicidade dos colaboradores – e dou o exemplo da minha experiência:

Há uns anos trabalhei numa empresa onde estava como trabalhadora temporária, trabalhava diariamente cerca de 16h por dia, ía muitas vezes trabalhar ao fim de semana – eram dias cheios e cansativos, mas simultâneamente, fantásticos! Éramos uma equipa extraordinária – apesar de muito trabalho, fartavamo-nos de rir, tinhamos um espírito e ambiente de trabalho óptimo e sabiamos que podiamos sempre contar uns com os outros – ainda hoje, passados 20 anos! A isto se juntava uma Líder que, apesar dos seus defeitos (que todos temos), era uma pessoa que estava sempre connosco – quantas vezes encomendou o nosso jantar e me foi levar a casa e no outro dia, logo de manhã, lá estava novamente do nosso lado!

Passados uns anos, numa outra empresa, senti pela primeira vez (e espero que última), o que era ser vítima de bullying, o que não esquecerei.

São duas experiências completamente diferentes mas que por muitos anos que viva, não esquecerei e das quais tirei ensinamentos para a vida.

Nasce-se Líder ou aprende-se a ser Líder?

Por estas e outras experiências pessoais, constatei que a verdadeira liderança se desdobra em diferentes vertentes, entre outras:

Estar presente, de corpo e alma

Apercebi-me que quanto mais subia na carreira, menos fazia as coisas que mais gostava. Passava o tempo em reuniões intermináveis e inúteis, tinha que seguir inúmeras burocracias para conseguir comprar um agrafador e deixava de ter tempo para estar junto dos colaboradores e saber como os podia realmente ajudar. Uma vez dentro da máquina de lavar que era a empresa, dei conta que estava presa no programa de centrifugação e que o botão de fim de ciclo estava avariado e por isso, de líder, tinha muito pouco.

Escutar os colaboradores e actuar

De facto, é imprescindível que o Líder, qualquer que seja o nível em que se encontre, utilize parte do seu tempo para Escutar (não só ouvir) os colaboradores - coloque-os à vontade para falarem livremente e saiba o que eles têm a dizer, invista o seu tempo a conhecê-los: os seus gostos, as suas dores, os seus problemas, esteja atento às suas necessidade e depois aja em conformidade. Não adianta servir carne no almoço de Natal se são todos vegetarianos – Upss, não sabia?!

Os líderes e as empresas que não se importam com os seus colaboradores não vão durar.

Confiar, confiar, confiar, dando autonomia e não fazendo micro gestão

Certamente que se recorda de quando começou a trabalhar na empresa XPTO – apesar de alguma insegurança inicial, ía cheio de sonhos e de vontade. E eis senão quando teve que começar a fazer um diário de todos os projecto ou processos em que trabalhava, de quanto tempo gastava em cada um, de mostrar o email antes de carregar no “Enviar” e até de informar quando ía à casa de banho.

Se se recorda disto, não cometa agora o mesmo erro – acredite que escolheu a melhor pessoa para aquela função – agora confie, em si e nela e dê-lhe espaço, até para errarQuando os níveis de confiança nos colaboradores são elevados, não só a sua energia e produtividade aumentam, como também é elevada a satisfação no desempenho das suas funções.

Não se esqueça que a sua principal função enquanto Líder é de alimentar em cada um dos seus colaboradores, as suas melhores qualidades e capacidades e torná-los os próximos heróis – eles é que são os protagonistas. É o líder que trabalha para e está ao serviço da equipa e não o contrário.

Dar feedback constructivo

Dar feedback ou feedforward como já se vai utilizando, é um poderoso instrumento - o colaborador vai sabendo como está a ser a sua prestação, fazendo as rectificações necessárias sem ter que esperar por aquela altura do ano em que já pode ser tarde de mais...e é uma oportunidade fantástica para o líder não só promover o valor e incentivar cada um dos seus colaboradores a ir mais além, como também de se aperceber como é que a sua actuação é recebida pelos demais e poder igualmente estar a tempo de rectificar o seu trajecto.

Reconhecer e Valorizar

Estes são dois valores que têm obrigatoriamente que estar no ADN de um líder – apenas aqueles que reconhecem e valorizam os seus colaboradores são dignos de serem considerados como tal. O reconhecimento do trabalho, do esforço, das capacidades dos colaboradores são equivalentes a shots de energia, é a lenha que alimenta o fogo que existe dentro de cada um de nós.

Os líderes têm o poder de criar o ambiente e as condições para que os colaboradores prosperem - está nas suas mãos!

Dar o exemplo

Um líder que defende a importância da escuta activa, quando está ouvir alguém, “está mesmo”, sem interrupções. Lembro-me de estar na reunião semanal com a minha chefia, que era constantemente interrompida com um telefonema ou com os olhos e a atenção desviados para responder só mais a este email – eu continha-me para não me levantar e ir-me embora tal não era a sensação de desinteresse que me era transmitido.

Faça o outro sentir que o quão importante é e que tem toda a sua atenção!

Viver o propósito e a cultura da empresa

propósito e a cultura da empresa são elementos que devem estar sempre vivos e presentes no dia a dia das organizações e não apenas para serem lembrados quando dá jeito ou fica bem. É impriscindivel que sejam vividos por todos, do topo à base e que sejam sentidos antes do primeiro dia – um potencial candidato tem que começar a identificar-se desde que ouve falar da empresa, a curiosidade e a vontade de saber mais vai crescer até que o namoro se concretiza em “casamento”. E depois, claro, é preciso ir alimentando esse amor para que este perdure e não caia na monotonia.

Não assuma, pergunte

Se alguém não está a ter um dia bom (acontece a todos), pergunte o que se passa e veja se pode ajudar e não assuma, simplesmente, que está de mau humor e que já passa...

Na dúvida, pergunte! Evite mal entendidos - são o início de um caminho por onde não queremos ir, transparência acima de tudo.

Seja humilde, reconheça os seus erros e limitações, saiba pedir ajuda e agradeça

Se há uma qualidade que encontro e admiro em muitos dos verdadeiros líderes é serem humildes e simples – já tive a sorte de contactar ao vivo, por mensagem ou email com alguns líderes que confirmaram essas características.

Não há nada mais humano do que um líder reconhecer que errou e que também precisa de ajuda - o ano passado, na Expo RH no Porto, assisti a um momento destes - a líder em causa assumiu publicamente que nem sempre tem um feitio fácil e como reconhece que nem todos conseguem lidar bem com a situação, disse que tinha procurado ajuda - achei extraordinário e de louvar, pois não é comum.

Depois, é preciso saber Agradecer! Agradecer pelo empenho das equipas, pelo esforço, pelas conquistas, porque um Líder não chega a lado nenhum e não é ninguém sózinho.

Por tudo isto, não é Líder quem pode, mas apenas quem quer servir os outros, sacrificar o seu tempo, energia, benefícios em proveito dos outros. A líderança é um investimento a médio/longo prazo que recomeça todos os dias e que só se atinge com paciência, consistência, honestidade, transparência, coragem e humildade por forma a ganhar a confiança dos colaboradores, conseguir criar um ambiente de trabalho saudável e com isso um circulo de segurança e de cooperação. Trata-se de um processo longo, mas os resultados desta viagem são extraordinários e compensadores - as pessoas ao sentirem-se cuidadas, cuidam também dos outros, são mais criativas, têm sentido de pertença e de propósito, sentem-se compreendidas, realizadas e valorizadas pelos líderes e colegas e a confiança e o respeito mútuo imperam. Logo, sentindo-se felizes não pensam em sair da empresa.

Não se esqueça - os colaboradores deixam Líderes, não empresas!


 


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